Trabalhar música, dança e teatro com alunos surdos ainda
é raridade. Conheça três exemplos de professores que fazem isso com qualidade.
Camila Monroe (camila.monroe@abril.com.br). Colaborou
Beatriz Vichessi, de Goiânia
TEATRO INCLUSIVO Na EM Severino Travi, alunos ouvintes e
surdos exibem-se em palcos de festivais e outras escolas.
Há muito tempo, se fala em inclusão de crianças com
deficiência nas escolas. Cenas como a da foto acima, porém, continuam sendo
raras. Trata-se de um grupo de teatro escolar que mistura alunos deficientes
auditivos com ouvintes. Na EM Severino Travi, em Canela, a 122 quilômetros de
Porto Alegre, as atividades de Arte integram normalmente os surdos. A trupe
teatral já participou de vários festivais, ganhou prêmios e sempre é muito
aplaudida. Além disso, a garotada tem uma fanfarra - e todos concordam que o
contato com as diferentes expressões artísticas ajuda a turma também nas outras
disciplinas, sem falar na integração entre os alunos. A Severino Travi, no
entanto, ainda é exceção.
Mas, ainda que o número de surdos matriculados em escolas
regulares venha aumentando (só nos últimos dois anos, o crescimento foi de 21%,
segundo o Censo Escolar), os próprios especialistas têm dificuldades em indicar
boas experiências de ensino de Arte que incluam esse público específico. Para
produzir esta reportagem, por exemplo, NOVA ESCOLA entrou em contato com todas
as Secretarias estaduais de Educação e com dezenas de municipais. Nenhuma delas
conhecia boas escolas para indicar.
Felizmente, há (sim) professores desenvolvendo bons
trabalhos de Arte que incluem crianças e jovens que sofrem, em algum grau, com
a deficiência auditiva. E, como acontece com as outras disciplinas, os resultados
são sempre muito animadores. Os surdos estão mais habituados a gesticular e
perceber emoções nos outros. Por isso, quando convocados a se expressar por
meio de caras, bocas e movimentos do corpo, eles tiram de letra. "Para
aproveitar melhor essa habilidade, é essencial explorar linguagens
diferentes", diz Daniela Alonso, especialista em inclusão e selecionadora
do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. "Para ficar no exemplo do
teatro, é possível montar um espetáculo falado na Linguagem Brasileira de
Sinais (libras), trabalhar com mímica ou mesmo criar personagens que não falam,
mas interagem com os outros."
Basta lembrar que, antes de surgir a tecnologia que
permitiu criar filmes falados, todo mundo entendia o cinema mudo. Nas artes
visuais, a audição não costuma ser o sentido mais importante. E muita gente
sabe que, para dançar, basta sentir a vibração da música (e não é preciso ouvir
para sentir essa vibração). Nesta reportagem, você vai conhecer as histórias de
três escolas que desenvolvem projetos de qualidade que incluem jovens surdos em
atividades de teatro, dança e música. Afinal, como escreveu o russo Leon
Tolstói (1828-1910), a Arte é mesmo "um dos meios que unem os
homens".